Oferendas e Sacrifícios

Chegou a hora de entender que uma oferenda não é feita por que uma entidade ou Orixá "está com fome".
Essa linguagem de que o santo come é figurada...
Na verdade o que se quer falar é que tal ou qual herança espiritual, cientificamente presente no DNA do encarnado, corre nas veias do mesmo e beneficia e é beneficiado com o avanço espiritual do "filho" e empresta-lhe o conhecimento, a experiência boa ou ruim, bem como todas as características necessárias para se trilhar o caminho tortuoso e cheio de tropeços que é a nossa vida terrena...
Nossos antepassados mais experimentados na arte do viver, seja pelo aprimoramento da alma, seja pelo arrependimento e o desejo de mudar aquilo que se gerou como um vício hereditário, sentem imensa satisfação em estar junto de seus filhos e prontos a auxiliá-los na caminhada.
Acontece que cada ancestral tem ligação com tal ou qual elemento da natureza que lhe é afim...
Somos formados daquilo que comemos, portanto, animal, vegetal e mineral...
Todos estes reinos estão e precisam estar presentes em nós...
A falta de um só elemento leva à degeneração e consequentemente à doenças e dificuldades psíquicas...
Tudo na natureza vibra em consonância com este equilíbrio...
Então o indivíduo se perde em seus caminhos e na maneira como lida com certos eventos da vida...Falta-lhe o elemento-chave para aquele evento, estritamente relacionado a um código genético "ausente", deixando no "filho" a impressão de injustiça, incompreensão, desajuste e, consequentemente, a dor e o sofrimento.
É quando deveria haver o sorriso, ou o silêncio, ou a audácia, ou a palavra, ou mesmo a humildade,...
Onde está o elemento que "anima" estas características no individuo?
Estamos sós fisicamente, mas se estamos vibrando a luz e o bom relacionamento com nossos antepassados, o relacionamento com os que estão na terra certamente será mais proveitoso...
Por isso se diz amar a Deus e ao próximo, como a si mesmo...
Quando vibramos uníssonos com o universo, vibramos a saúde, a paz e a prosperidade em todos os sentidos...
Então a busca relaciona-se aos anseios da alma: dandara!
A palavra dandara etimologicamente significa "fazer o que a alma quer..."
Busque primeiro o reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais lhe será acrescentado...
Embora existam "prejuízos ancestrais", estes são amenizados com a dedicação sincera do devoto à religião da luz, possibilitando um resgate no tempo e no espaço, beneficiando-se, inclusive, àqueles necessitados do além.

Oferendas e Sacrifícios

Nem todos precisam dedicar-se às oferendas e sacrifícios, embora a grande maioria encontra-se de fato "carente" deste "reencontro" com o "outro lado".
Não falamos aqui de o que no espiritismo denomina-se "espírito", que na linguagem de umbanda denomina-se "alma", mas além disso, referimo-nos ao "axé", à energia geradora e dinâmica de tudo o que existe, advindo do ancestral divinizado à natureza...
Quando se faz uma oferenda a um Espírito da natureza, independente do ancestral evocado no ato da oferenda, estabelece-se um "elo" ora perdido pelo devoto antes deste ato simbólico e ritualístico...
Então oferta-se àquele Orixá ou Omo-orixá o elemento de ligação entre o mesmo e o "filho" necessitado da energia evocada.
Por isso um filho, desanimado e queixoso das dificuldades da vida resolve, sob sua intuição ou orientação de um sacerdote conhecedor do "segredo" a ofertar o "alimento" sagrado  ao "deus do ferro", Ogum.
Ora Ogum é guerreiro, senho das batalhas, que age movido a sangue quente...Exatamente o que precisa aquele filho!
E ao "arriar" tal oferenda nas estradas da vida, encontra-se, dentro ou fora de si, soluções quase que imediatas da ação do elemento "ferro".
Este elemento age no sangue, responsável por levar o oxigênio ao cérebro, abrindo caminho como faz o inhame no sangue, facilitando, inclusive, uma melhor relação com o Orixá (dono da cabeça), que reside no cérebro.
O Sacrifício = sacro ofício = trabalho sagrado representa àquilo que se oferece num nível mais elementar e, portanto, mais primitivo, sem dúvida.
Quando se oferta o elemento que "dá vida" a um ancestral, está-se evocando a presença do mesmo de uma forma mais contundente. É quando o "filho" está muito necessitado de seu auxílio, reportando-se ao mais primitivo apelo, atuando a nível inconsciente, inclusive, onde a oferta é uma "lei" de troca.
O que pouca gente sabe é que o sacrifício animal praticado nas religiões yorubá não constituem "magia negra" ou qualquer prática macabra.
A prática do ritual de sacrifício é feita de forma que o animal "não sofre", bem diferente do que se percebe em abatedouros e matadouros ainda em nossos dias.
Quando faz-se necessária esta oferta é quando o ofertado coloca-se plenamente à serviço do filho. É como se devolvesse a vida àquele ancestral primitivo que, em toda sua "plenitude" decide assumir certas responsabilidades no caminhar de seu descendente.
Por isso, percebe-se uma mudança às vezes drástica na personalidade do ofertante.
É como se algo "se resolvesse" consigo mesmo. Encontrou a "paz" de espírito...
Uma flor, um perfume, um prato especial, um presente à alma, ao Espírito...
Estas práticas tem também um valor "terapêutico" imediato. Agrada-se um aspecto primitivo "mal-resolvido" do ofertante, dando a este uma sensação de "acerto de contas" com o passado.
É como se o leão comesse a caça que deixou de caçar por estar "velho" quando encarnado...
Bom enfatizar que estamos falando de natureza como natureza, e, portanto, seguindo todas as suas leis e maneira de se expressar.
Uma dessa leis é "tragar e ser tragado", diante da qual não estamos livres...
Que o tempo seja propício, e que saibamos o tempo certo de todas as coisas...
Motumbá! Asé o!

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