E o Homem fez Deus à Sua Imagem e Semelhança

Sempre questionei a maneira rígida e dogmática que algumas pessoas - e a maioria delas - escolhem prá enxergar a religiosidade.
Quando vejo uma pessoa aferrada a seus conceitos religiosos costumo dizer para ela ou para mim mesmo, conforme a conveniência, que Deus deu a inteligência e quem escreveu o livro foi o homem,...
Entretanto, vemos como estas religiões e adeptos, ao longo dos anos, vão deixando de lado o conteúdo do ensinamento e vão se apegando à “roupagem”, ou seja, à maneira que aprenderam a ver e cultuar Deus.
Em todas as civilizações sempre se cultuou Deus de alguma forma. Cada qual sob diferente nome, personificação, dogma, ritual, crença. Todas seguindo tradições e procedimentos ensinados pelos mais velhos e, presumivelmente, maiores conhecedores do “segredo”.
Percebemos que na maioria dessas religiões querem impor uma maneira mais ou menos “aceita” pelos demais adeptos de enxergar Deus e os ensinamentos deixados pelos “mais velhos”, e se esquecem que mesmo Deus pode evoluir,...
Se o Grande Criador nos prova sua existência através das maravilhas que enxergamos em sua criação, também vemos como ele teve e tem o trabalho árduo de tentar melhorar as espécies, adaptando-as a diferentes circunstâncias e situações, segundo necessidade, tempo e espaço.
No entanto, de maneira paradoxal para alguns, ficamos maravilhados quando nossa alma se depara com rituais e cultos primitivos. Não à maneira com que são praticados, mas com o conteúdo, a importância de retornar à sagrada e primitiva maneira de nos recordarmos de nossa natureza mais pura e verdadeira.
Então ficamos alegres e animados em poder participar destes cultos e rituais, mas, por outro lado, lamentamos ao perceber que poucos estão de fato com a alma, com a essência, com o conteúdo,... A grande maioria dos adeptos segue a tradição. E apega-se de maneira dogmática e servil ao “como” e ao "quem", ao invés do “o quê”,...
Como se Deus exigisse uma maneira exclusiva e imperativa de ser cultuado,...Uma obrigação,...
Então se esquece a essência e cultua-se a personificação. O profetapontou para lua, e todos olham para o dedo...
Deixa Deus de ser o autor das bênçãos a serem agradecidas e passa a ser o “punidor” a quem devemos respeitar e temer, sob o risco de sermos condenados e castigados,...
Descobrimos que o homem tem a tendência a não ver, e não querer, ver Deus como Ele realmente é, mas de personificá-lo, segundo suas projeções e conveniências.
Usa-se a religião não para propiciar ao homem conhecer Deus, mas para apresentar ao homem o “nosso Deus”, com todas as projeções e estereótipos com que o criamos,...
Sim, deixamos de ser criaturas humanas para sermos criadores do “divino”, já que não conseguimos ser criadores do humano,...
Então lançamos sobre ele, deus, todas as nossas ansiedades, medos, frustrações, dogmas, limitações, desejos, fraquezas e o revestimos de “poder”, personificando, assim, o deus que queremos cultuar. O deus justo, segundo a nossa justiça, claro. O deus misericordioso, segundo as nossas culpas,...O deus que “cura” as nossas mazelas,...O deus da promessa, que não conseguimos cumprir nós mesmos, por nossa incapacidade de ir adiante em nossos propósitos,...O deus que quis assim, por não nos considerarmos merecedores do melhor,...
Criamos o nosso juiz e damos a ele as leis que devem ser seguidas, tal qual a constituição brasileira, segundo nossos costumes e interesses,...
A mente nos enreda em conceitos e dogmas inquebrantáveis, gerando arquétipos destruidores de nossa fé e de nossa capacidade de ver o Criador e a criação como fenômenos mais ou menos equidistantes e necessários pra um referencial daquilo que ele é e aquilo que somos, em detrimento daquilo que achamos que somos e aquilo que Ele verdadeiramente é,...
Hoje entendo as palavras do grande mestre Sidarta Gautama, o Buda, quando diz que a imagem de Deus não é Deus, e que, portanto, somente a renúncia à nossa personalidade e ao ego, e, portanto, aos nossos conceitos levaria a uma experiência real com a essência que palpita em cada átomo do universo,...
Conhecer deus é um aprendizado constante, uma renúncia diária ao “velho” – e como tem gente personificando-o como um velho,... Como se ele um dia fosse morrer,...e morre, segundo alguns códigos “sagrados”,...
Claro que morre, ele é fruto da mente de um reles mortal,...Mas vive um pouco mais,...ele ressuscita,...Reencarna, diriam outros,...
E como mal conseguimos entender o que é ser a imagem e semelhança de um Deus, então fazemos dele nossa imagem e semelhança. Nós o criamos assim,...
Podem me chamar de Boca do Inferno,...

Publicado em novembro de 2009.

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