O Segredo da Riqueza

Quando da criação do mundo, o Criador chamou todos os filhos que iriam povoar a terra e lhes deu um tesouro, e dizia a cada um: _Tome este tesouro e leva-o para o teu provimento. Esta é tua riqueza. Preserve-o bem, prá que não se perca,...

Então todos receberam o seu tesouro e o mesmo conselho.

Então passaram-se os tempos, e a humanidade ia se multiplicando, porém a riqueza cada vez mais escassa, e o homem já estava lançando mão da riqueza da natureza, embora esta não possuísse o mesmo brilho do tesouro que o Criador distribuíra entre os homens, afim de prover mais riqueza, mas, ao invés de ficar mais rico, aquela riqueza ia diminuindo, pois precisava de tempo prá ser reposta, e a humanidade ia ficando cada vez mais pobre.

Mas ninguém queria abrir mão de seu tesouro, que Deus lhes havia dado, com medo de não possuir mais nada.

E a miséria, a doença, a dor, o desespero, a tristeza e angústia iam tomando conta da humanidade, onde deveria existir felicidade e fartura,...

E como ninguém queria lançar mão de seu próprio tesouro, todos se puseram a mendigar o tesouro alheio, e a inveja, o roubo e a ambição pelo que é alheio começou a crescer, e, com isso, o sofrimento multiplicou-se, pois ninguém dava por satisfeito em ver que, mesmo desejando aquilo que era do "outro" e tomando para si, sua riqueza não era vista, pois aquela riqueza, que não lhe pertencia, mas que fora tomada de outrem, era fruto do tempo, pois lhes escorria pelos dedos, quando mal lhes dava para o sustento.

E muitos começaram a mendigar a riqueza do outro. Mesmo daqueles que também ignoravam a existência do seu próprio tesouro,...

Lamentável cena aquela de ver ricos mendigando a riqueza alheia, por não querer lançar mão da sua própria riqueza,...

E a miséria já estava dizimando a humanidade, pois todos achavam que melhor era morrer com um tesouro guardado que morrer pobre,...

E vendo todo aquele sofrimento e miséria, um homem, depois de tanto observar e estudar a humanidade, percebeu que por detrás das vestes esfarrapadas daqueles miseráveis que mendigavam, brilhava algo. Um brilho que lembrava o ouro.

Porém não se dava por satisfeito em ver tanto sofrimento e logo resolveu acabar com a miséria alheia. Resolveu lançar mão de seu tesouro próprio prá salvar os miseráveis. Então começou a doar de sua riqueza e a distribuir entre os "pobres",...

E percebeu aquele homem que à medida que doava de seu tesouro, mais se acumulava a sua riqueza, ou seja, ficava mais rico, à medida que distribuia a sua riqueza com aqueles miseráveis,...

E com o tempo foi descobrindo que muitos daqueles pobres iam também fazendo o mesmo, pois aprenderam com aquele homem a arte da solidariedade e, com o desenvolvimento da compaixão o brilho que tal homem via em alguns ia crescendo até que ficasse às vistas o tesouro que aqueles outros homens também guardavam consigo por tanto tempo.

Então percebeu que todos na verdade possuíam o seu próprio tesouro,...

Com o tempo, foi percebendo que o tesouro daqueles outros homens também ia crescendo à medida que compartilhavam com outros homens,...

Até que por fim, descobriu aquele homem que o tesouro de cada um daqueles homens tinha uma peculiaridade, uma beleza e um brilho diferente,...

Até que finalmente percebeu que, de fato, cada um carregava um tesouro próprio, diferente, porém valiosíssimo, pois, assim como a luz dissipa a sombra, quando cada um se dispunha a doar de sua riqueza, a miséria ia se desaparecendo, e o mundo ia ficando mais rico, e assim como o arco-iris o tesouro diferente e próprio de cada um ia gerando uma complexidade de riqueza descomunal, pois cada um possuía seu próprio tesouro,...

Então aquele homem um dia resolveu ir aos pés do Criador e perguntar: _Pai, por que pedistes prá que cada um guardasse bem e zelasse pelo seu tesouro, e não comunicastes também que o mesmo se multiplicaria, à medida que fossem doados os outros?

E o Criador lhe respondeu: _Se assim o fizesse, vós não teríeis conhecido a solidariedade e nem experimentado a compaixão, que são a essência de todas as riquezas: o amor. O amor é assim: quanto mais se dá, mais se acumula em vós,...